sábado, 27 de dezembro de 2014

O pequeno grande poeta

Conheci um garotinho
Que morava na rua
Ele tinha um caderninho
Que era sua companhia fiel.
Ainda que a vida fosse um fel,
Ele continuava a escrever.
Despia sua alma,
Nua e crua,
Para sempre dizer.
Dizer o que sentia,
Falar do amor,
Da beleza das flores,
Que surgiam em meio ao amargor.
Quase tudo lhe faltava,
A comida era um presente,
O banho era no rio,
Os pais eram ausentes
E a família nunca viu.
Quando a fome doía,
Alimentava-se da poesia.
Aí a chuva carregou seu caderno,
Seu amigo das madrugadas frias,
E muito triste, ele continuou.
Arranjou outro caderno,
E a escrever, se desdobrou.
O seu lençol foi levado,
E o caderno, roubado.
De novo!
Ele se fez novo.
Recomeçou.
Ele não tinha terno,
Mas sabia ser terno.
Ele não tinha carros caros,
Mas sabia ter valor
Ele não tinha uma mansão,
Mas conseguia repousar no chão.
Perdeu tantas poesias,
No entanto, se refazia.
Por que alma de poeta,
O vento não carrega,
A chuva não leva,
E o artista, leve,
Eleva-se em arte,
Sempre nova,
Ainda que num caderno
Velhinho,
Molhado de chuva,
Com a alma desnuda...
E ainda que seu caderno caísse num esgoto,
E meu amigo perdesse tudo outra vez,
Eu diria que ele se refez,
Por inteiro novo,
Na sua inspiração,
Inesgotável.


Indyara Ribeiro

Um comentário:

  1. A escrita é muitas vezes a força que nos falta e há alturas em que nos salva

    Beijinhos*

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